Friday, September 28, 2007

"o mundo que o sufoca"

Minha mãe, em parte, está certa.
Eu devia procurar me encaixar e ir atrás da paciência que eu abandonei, mas é tão moralmente vergonhoso ser paciente com certas coisas e certas pessoas que eu desisto da idéia só de pensar.

Tuesday, September 18, 2007

Parênteses

Eu sou Ofélia, aquela que o rio não conteve.
A mulher suspensa na corda.
A mulher com as artérias abertas
A mulher das overdoses.
A mulher com a cabeça na fornalha.
Neve nos seus lábios.

Ontem finalmente deixei-me cometer suicídio.
Agora estou sozinha com meus cestos, minhas coxas, meu útero.
Destruo os instrumentos do meu cativeiro, a cadeira, a mesa, a cama.
Destruo o campo de guerra que era a minha casa.
Arranco as portas para que o vento deixe entrar o grito do mundo.
Destruo a janela.
Com minhas mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e me usaram sobre a cama, a mesa, a cadeira, o chão.
Incendio minha prisão, atiro meus vestidos ao fogo.
Jogo meu relógio que foi meu coração para fora do meu peito.
Saio na rua, vestida com meu próprio sangue.

Daqui a diante, Electra.
Do coração da escuridão
Sob o sol da tortura até as capitais do mundo.
Em nome das vítimas expulso todo sêmen que já recebi.
Faço do leite de meus seios um veneno letal.
Nego ao mundo que gerei.
Há falta de ar entre minhas coxas, afundo-o em meu útero.
Morte à alegria da escravidão, viva o ódio e o desdém, a rebelião e a morte.
Quando cruzar o quarto empunhando uma faca, destinguirá a verdade.

Hamletmachine - Heiner Müller

Friday, September 14, 2007

Uma conclusão sóbria e sem lágrimas:
existem somente dois tipos de pessoas nesse mundo infeliz, as que usam e as que são usadas.
Agora, se tem como mudar sua posição no mundo ou se ela é pré-determinada e pra sempre a mesma é algo a ser descoberto e discutido.

Eu li, uma vez, por aí, que Sartre analisa a situação assim: a partir do momento que passamos a conviver com o outro, ou seja, a partir do momento que somos inseridos no meio social, ou viramos o objeto do outro ou tornamos o outro o nosso objeto porque, segundo ele e segundo o que me lembro, não seria possível conviver com outras pessoas de forma diferente.
Acho que esse tal de Jean-Paul Sartre sabia bem do que falava.